Pular para o conteúdo

Professora que comprava enfeites para festa do filho morre por bala perdida

O menino que comemoraria 5 anos, ao invés de festa, vai participar do velório da mãe; disparo foi feito por um policial militar reformado

Uma professora que estava comprando enfeites para a decoração do aniversário do filho de cinco anos foi morta por uma bala perdida na noite desta quarta-feira (20). O tiro foi disparado por um policial militar reformado durante uma confusão em um assalto na cidade de Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas Gerais.

A festa de aniversário da criança seria nesta quinta-feira (21), mas foi interrompida pela morte da mãe e na data em que ele comemoraria seu quinto ano de vida, ao invés da festa, o pequeno vai participar do velório da mãe.

Fabiana Filipino Coelho, de 44 anos, foi atingida por um tiro na lombar, foi socorrida, mas não resistiu e morreu na noite de quarta. Ela será velada e enterrada no Cemitério Parque da Saudade ainda nesta tarde.

De acordo com a Polícia Militar, a confusão que culminou no assassinato começou na rua Marechal Deodoro, no centro da cidade, onde um adolescente de 16 anos assaltou uma mulher. O suspeito abordou a vítima com uma faca que foi colocada no pescoço dela e disse: “passa o celular, anda!”.

A mulher entregou o aparelho e o adolescente investiu novamente com a faca e mandou ela passar todo o dinheiro. Ele pegou a quantia, no valor de R$ 100, e saiu correndo. A vítima do roubo disse que as pessoas começaram a gritar que tinha acontecido o roubo e que o adolescente era ladrão.

No momento em que o suspeito corria pela rua o policial militar reformado jogou ele no chão e se identificou como autoridade policial. Nesse momento o adolescente investiu contra o homem e deu uma facada no braço dele, provocando um corte profundo.

Armado, o policial atirou contra o suspeito do roubo, mas não atingiu o rapaz e acabou acertando Fabiana. O local onde foi disparado o tiro é bastante movimentado e com muitas galerias de lojas. O militar reformado disse que estava com a filha no local e que atirou contra o rapaz por medo que acontecesse algo pior com ele e a filha.

Após os disparos, o adolescente tentou fugir, mas foi segurado por populares. Os policiais conseguiram apreender o suspeito e com ele foi encontrado o dinheiro e o celular da vítima. Ele foi encaminhado à Polícia Civil junto com o material apreendido.

O policial militar reformado foi levado para o hospital Albert Sabin, em Juiz de Fora. No local ele contou aos militares que não viu que tinha atingido a professora e que agiu em legítima defesa tentando se desvencilhar das agressões do adolescente que era seu alvo. A Polícia Civil, por meio da assessoria de imprensa, disse que ainda será definido se o homem será preso e por qual crime vai responder.

A arma de fogo usada no tiro que atingiu Fabiana, as munições intactas e deflagradas e o Certificado de Registro de Arma de Fogo (CRAF) foram encaminhados para a Polícia Civil. O militar reformado continua internado no hospital devido a gravidade da lesão.

A professora chegou a ser socorrida para o Albert Sabin, ela passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos. A Delegacia de Polícia Civil de Homicídios da cidade vai investigar o caso.

Luto

O Instituto Estadual de Educação (IEE) em Juiz de Fora, onde Fabiana dava aulas, amanheceu de luto nesta quinta-feira (21). “Os alunos estão completamente abalados. Eles vieram para a escola para ficar junto com outros professores. Nós fizemos uma caminhada e homenageamos a Fabiana”, contou o diretor da instituição Leonardo Ferreira.

A professora dava aula no instituto de Matemática a quatro anos e era querida por todos. “Ela sempre estava engajada em questões extracurriculares, e ajudava os alunos com questões pessoais, muito alegre e ontem mesmo ela estava aqui fazendo uma oficina de turbante em comemoração ao Dia da Consciência Negra”, ressaltou Leonardo.

O diretor também chamou atenção para a forma como a morte ocorreu. “Infelizmente ela foi tirada da nossa escola e do convívio com os amigos por um ato de violência desproporcional eu espero que sirva de exemplo para que nós tenhamos consciência quer todo ato tem uma consequência na vida das pessoas.

Pelo Facebook várias homenagens e lamentações foram feitas em relação a morte da professora.

Recorrente

O adolescente que roubou a mulher tem passagens por vários crimes, todos neste ano. Ele tem passagem em três ocorrências de roubo, uma de furto, três de ameaça e uma de agressão. Dessa vez ele foi apreendido em flagrante e vai responder por roubo e tentativa de homicídio.

Veja a nota da escola:

Na manhã desta quarta-feira, 20 de novembro, fomos todos apanhados de surpresa pela morte trágica de uma de nossas colegas: Fabiana Filipino Coelho, vítima de um disparo no centro da cidade.

​Não podemos sequer imaginar a dor de sua família por ser tão violentamente privada do contato com o ser humano que Fabiana era, mas tentamos, empaticamente, ser solidários nesse momento tão difícil e desejamos que todos os que sofrem encontrem o conforto de que precisam.

​O que aconteceu com Fabiana ontem tem acontecido sistematicamente em nosso país: um gesto de violência (assalto) acende um sentimento de revolta, que se transforma num intenso desejo de justiçamento, terminando de forma trágica.

​É inconcebível que um assalto em busca de um celular e uma pequena quantia de dinheiro termine com a morte de uma pessoa, seja ela alheia ou envolvida na situação, mas é mais revoltante ainda que um inocente que militava pela cultura da paz sofra as consequências dessa tragédia.

​O policial que disparou o tiro que atingiu Fabiana, ainda que movido pela melhor das intenções, colocou em risco todas as pessoas que estavam na rua naquele momento. A vítima poderia ter sido qualquer um de nós.

​Não é por meio de armas e tiros que resolveremos o cenário de violência e guerra civil que assola nosso país. Ainda que o disparo tivesse atingido o jovem que praticou o assalto, a violência não teria sido extirpada da nossa realidade. É preciso buscar as causas da violência e combatê-las na origem para que casos como os de Fabiana parem de se repetir, levando dor a tantas pessoas.

​No primeiro semestre desse ano, 2886 pessoas foram mortas por policiais. Nos presídios brasileiros, já existem mais 800 mil presos, 41,5% deles ainda sem condenação. E mesmo assim, em 2019, assistimos a 24,4 mil mortes violentas nos primeiros sete meses do ano, o que equivale a um assassinato a cada 12 minutos.

​Todos esses números combinados nos mostram que não é dando tiros a esmo, prendendo indiscriminadamente pessoas ou praticando uma “linha-dura” de repressão que chegaremos ao resultado que todos nós queremos: o fim da violência e da sensação de medo que nos assola diariamente.

Como sociedade, precisamos exigir dos responsáveis que trabalhem por um país mais justo, em que não existam 12,5 milhões de desempregados; em que os salários sejam dignos e justos, que impeçam que mais da metade da população viva com menos de um salário mínimo por mês; que a saúde, a educação, a justiça e o lazer deixem de ser produtos comercializados a um pequeno grupo de privilegiados e tornem-se um direito universal.

​É preciso que todos tenham oportunidades e o direito de definirem seu presente e seu futuro de forma igualitária, respeitadas todas as nossas diferenças. É preciso que todos nós exercitemos nossa humanidade, solidarizando-nos à dor da família de Fabiana, ao policial que se feriu nessa tragédia e ao jovem que recorreu à violência como forma de agir.

​Nós, professores, funcionários e alunos do Instituto Estadual de Educação, expressamos nosso luto pela perda de nossa colega e professora e nos solidarizamos à dor dessas famílias.

Fonte: O tempo

Adubo para Grama

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *