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Novembro é o pior mês da pandemia de Covid-19 em Juiz de Fora

Número de internações em decorrência da doença aumentou 189% no período, quando também ocorreram 64 óbitos, maior quantidade em 30 dias desde o início da pandemia

Em termos epidemiológicos, o mês de novembro foi o pior da pandemia de Covid-19 até agora. Em cerca de 30 dias, a cidade viu o número de pessoas internadas – que era de 112 em 3 de novembro – dobrar em apenas 11 dias, subindo para 225 no dia 14. Foi a partir deste dia, também, que o índice passou a subir de forma mais acentuada, chegando a 324 no último dia do mês – crescimento de 189% em comparação ao registrado no dia 3. Como consequência, a taxa de ocupação dos leitos de UTI também cresceu durante o mês, alcançando o preocupante percentual de 98% de ocupação nos hospitais privados na última semana.

O mês de novembro também foi marcado por 13 recordes no número de hospitalizados em “leitos Covid” – muitas vezes, em dias consecutivos -, evidenciando o agravamento da situação epidemiológica na cidade. Desde o dia 5 de novembro, a Tribuna vem mostrando a evolução das hospitalizações em Juiz de Fora. Somente na primeira semana do mês – entre terça e sábado -, a quantidade de internações subiu 30%, percentual que foi sendo superado.

Ao mesmo tempo, também cresceu a quantidade de óbitos e de pessoas infectadas. Conforme levantamento feito pela Tribuna via boletim epidemiológico da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), entre outubro e novembro, o município teve 108 mortes causadas por complicações da Covid-19. No mês de outubro, ocorreram 44 óbitos, e em novembro, 64 – número que superou as 57 vítimas fatais do coronavírus em setembro, que era, até então, o mês com recorde de mortes.

Além disso, ainda de acordo com os dados da PJF, na segunda semana de novembro, a cidade teve quatro dias em que mais de cem diagnósticos de coronavírus foram atestados em intervalos de 24 horas. No último dia 23, o município bateu o recorde de registro de novos casos desde o início da pandemia: foram 274 pessoas diagnosticadas com Covid-19. O dado, entretanto, foi superado novamente nesta quinta-feira (3 de dezembro), quando mais 483 casos foram confirmados em 24 horas, sugerindo que os taxas podem continuar altas em dezembro.

90% dos internados têm fatores de risco
Considerando esses indicadores, o secretário adjunto da Saúde, Clorivaldo Rocha Corrêa, admite que a cidade vivencia seu pior momento da pandemia. De acordo com ele, o índice de transmissão do vírus, o chamado RT, tem estado alto, o que quer dizer que a doença continua se disseminando de forma ágil. No último dia 13, a taxa ficou em 2,1, o que significa que cada pessoa infectada poderia transmitir a doença para outras 2,1 pessoas. No dia 26, o índice caiu para 1,14. Entretanto, o número ainda é considerado alto para os padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS). O órgão preconiza que o parâmetro deve ficar abaixo de 1 por, pelo menos, duas semanas para indicar início de controle da doença.

“O vírus está circulando mais. Pessoas que estavam dentro de casa começaram a ir para a rua e a se expor, e isso inclui pessoas que são do grupo de risco. Com uma alta taxa de transmissão da doença, essas pessoas se contaminam e tendem a apresentar quadros em que precisam de internação”, analisa o secretário adjunto. Atualmente, conforme dados da Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra), cerca de 25 mil idosos circulam diariamente pelo transporte coletivo urbano. Para Clorivaldo, essa situação é grave e expõe um grupo muito vulnerável à Covid-19 e seus possíveis agravamentos.

De acordo com dados de monitoramento da Secretaria de Saúde, 90% dos casos que precisaram de internação na cidade foram de pacientes que possuem fatores de risco – comorbidades ou têm mais de 60 anos -, e os mais graves necessitam de cuidados na rede intensiva. “Essas internações (em UTI) costumam ser mais prolongadas. Estamos observando um maior número de óbitos, a maioria de pessoas idosas ou que tinham uma doença pré-existente. E normalmente são pessoas que ficam internadas por um mês, três semanas, e que agora estão vindo a óbito”, diz Clorivaldo Rocha.

Capacidade de ampliação de leitos UTI está próxima do limite
Desde março, quando o coronavírus começou a avançar na cidade, a PJF ampliou o número de leitos intensivos (UTIs) de 108 para 197. O último incremento aconteceu há cerca de duas semanas, quando oito novos equipamentos foram implementados no HPS, e 14, no Hospital Ana Nery. A ampliação destes leitos ocorreu após o número de internados e o índice de ocupação de leitos na cidade começarem a subir. No entanto, conforme afirma o secretário adjunto Clorivaldo Rocha, a capacidade de ampliação de equipamentos intensivos, pela Prefeitura, “está próxima do limite”.

“Estamos chegando em um ponto em que não teremos mais condições de contratualizar (novos leitos)”. Caso a cidade chegue ao limite, o secretário adjunto explica que é possível, via plano estadual de contingência da Covid-19, tentar a transferência de possíveis pacientes para unidades hospitalares da microrregião de Juiz de Fora. “Se continuar nesse parâmetro (crescimento de internações), essa possibilidade é real”, diz.

Durante entrevista coletiva à imprensa em Juiz de Fora na última segunda (30), o secretário de Estado de Saúde (SES-MG), Carlos Eduardo Amaral, informou que a pasta trabalha para abrir mais 20 leitos de UTI na cidade. Na Zona da Mata, o município de Caratinga também pode contar com novos leitos. “O objetivo é que esses leitos sejam de UTI e vocacionados para Covid-19”, explicou o titular da SES-MG. “É importante lembrar que, sobre os leitos clínicos de UTI, nós temos número grande na região e, neste momento, não tem sido sinalizado de que haja risco de faltar”, afirmou.

Alerta
O secretário adjunto Clorivaldo Corrêa chama atenção para o momento crítico que a cidade vive. “Estamos vivenciando um momento de piora nos nossos indicadores, no número de casos e internações, e isso é realmente preocupante. Precisamos ter em mente que o uso de máscara ainda é necessário, assim como a higienização das mãos e de superfícies e do uso de álcool em gel. Isso não está descartado, porque ainda estamos vivenciando uma pandemia (…). É importante as pessoas fazerem o isolamento o máximo que puderem, e aquelas que não puderem, devem evitar aglomerações”, alerta.

Contaminação ocorre de maneira progressiva, aponta especialista
Assim como mostra o RT, quanto maior o número de pessoas contaminadas, maior também é a taxa de transmissão do vírus. Este fator é natural em uma pandemia, quando as pessoas ainda não têm imunidade contra o vírus, de acordo com o infectologista Marcos Moura. Esta progressão vem sendo observada em Juiz de Fora e está diretamente relacionada à flexibilização das medidas para o controle da Covid-19.

“(A contaminação) vai se propagando conforme as relações das pessoas aumentam”, diz. “Elas começam a entender que alguns ambientes são mais seguros e outros menos seguros, mas, na prática, todo ambiente tem um risco. A pessoa pode estar em um elevador sozinha e se contaminar. Ela também pode estar em um hospital e não se contaminar”, exemplifica.

De acordo com o especialista, o aumento no número de casos em Juiz de Fora pode estar relacionado à transmissão no ambiente domiciliar, por meio de familiares que não deixaram de ir às ruas. “Como houve flexibilização, mesmo as pessoas que estão em casa se contaminam porque uma parte dos familiares, indo na rua e se contaminando, acaba transmitindo em casa.” Este detalhe chama a atenção porque ocorre, principalmente, entre pessoas que estavam mantendo o isolamento social, mas são do grupo de risco. Sendo contaminadas, elas podem acabar sendo internadas e podem morrer.

Testagem em massa e colapso
Para o infectologista Marcos Moura, as flexibilizações econômicas deveriam ocorrer a partir do momento em que há uma testagem em massa, que possibilita um olhar mais detalhado sobre o real cenário da pandemia na cidade. No caso de haver piora dos índices epidemiológicos, para ele, há a necessidade de adotar medidas restritivas.

“Vamos tendo pessoas doentes, mas muitas sem diagnóstico”, afirma. “Restringindo a mobilização das pessoas e o movimento urbano, você diminui a transmissão e ‘ganha’ tempo. Quando você flexibiliza, você aumenta o número de casos. Ainda há muita dificuldade de entender como vai ser essa logística, porque por mais que flexibilize, temos que testar, mas, basicamente, nossas testagens ainda são vinculadas a pacientes internados ou da rede privada”, explica.

Sobre a possibilidade de colapso na rede de saúde, caso a quantidade de internações continue subindo, ele acredita que o ideal é que haja ampliação do número de leitos. “É um custo muito alto e, de forma geral, as prefeituras sempre trabalham no limite, então isso acaba sendo um dado alarmante”, considera. “Se a dinâmica privada e pública não se adaptar e não conseguir ampliar esses leitos de maneira rápida e hábil, realmente podemos ter um colapso.”

Fonte: Tribuna de Minas

 

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