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Estado finaliza protocolo para retorno presencial

Conforme a Secretaria Estadual de Educação, a reorganização do calendário letivo também está sendo analisada

Mesmo sem data prevista, o Governo de Minas afirma estar avaliando os meios mais seguros para a retomada das atividades presenciais nas instituições de ensino mineiras, considerando critérios técnicos e científicos. “A Secretaria Estadual de Educação (SEE/MG) está elaborando um protocolo para o retorno às aulas presenciais, em consonância com as orientações da Secretaria de Estado de Saúde (SES). O material será finalizado após amplas discussões e estudos realizados pela secretaria com entidades educativas e será apresentado em breve”, informou a pasta por meio de nota.

Conforme a SEE, a reorganização do calendário letivo também está sendo analisada, seguindo as orientações dos conselhos Nacional e Estadual de Educação, bem como as diretrizes das legislações vigentes. “Os Planos de Estudos Tutorados (PETs) são disponibilizados em volumes mensais, com conteúdos e atividades propostas de acordo com a carga horária semanal prevista de cada disciplina, podendo, assim, serem considerados para cumprimento da carga horária mínima anual prevista para o aluno.”

O Estado afirma que mais de 97% dos alunos da rede tiveram acesso, seja virtualmente ou de forma impressa, aos PETs, considerados a principal ferramenta do Re

gime de Estudo não Presencial. “São disponibilizados por meios virtuais e entregues impressos para os alunos que não têm internet. O aplicativo Conexão Escola, que tem a navegação patrocinada pelo Estado para alunos e professores, já contabiliza mais de 1,3 milhão de downloads. Nele, o aluno pode assistir às teleaulas e baixar os PETs, além de interagir com seus professores pelo chat, sem gastar seu plano de dados de internet”, descreve a assessoria da pasta.

Além dessas plataformas, o programa Se Liga na Educação chega a 77% dos lares dos estudantes, pela Rede Minas e TV Assembleia, atingindo cerca de 1,4 milhão de alunos por TV aberta, segundo a SEE. “O programa ainda é exibido no YouTube, onde também fica disponível para ser assistido depois, e chega a alcançar 500 mil visualizações por dia. O site estudeemcasa.educacao.mg.gov.br, que reúne todos os materiais de estudo não presencial ofertados, apresenta mais de 25 milhões de acessos”, completa.

Ainda de acordo com a secretaria, “todo o Regime de Estudo não Presencial foi pensado de forma a possibilitar a manutenção da relação com a escola, de maneira que os estudantes não perdessem o contato com a atividade escolar, evitando, assim, que venham a abandonar os estudos. O acompanhamento escolar, coordenado pelos gestores e equipe pedagógica das unidades escolares, tem sido feito de forma bastante cuidadosa, para garantir a participação do maior número possível de estudantes.” Para evitar a evasão escolar, garante a SEE, as escolas estão desenvolvendo ações direcionadas, como a busca ativa de alunos ausentes das atividades remotas.

Categoria aponta desinteresse dos alunos e falhas nos métodos
Embora o Estado aposte no êxito das suas ações para minimizar os impactos da epidemia na educação, a maior parte dos 2.300 professores ligados à rede estadual em Juiz de Fora encontra falhas nos métodos aplicados aos 32 mil alunos dos ensinos fundamental e médio, segundo destaca o coordenador-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação em Minas Gerais (Sind-UTE/ Subsede Juiz de Fora), Alessandro Furtado Pacheco.
“Assim que se instalou a pandemia da Covid-19 começamos a ter uma série de imposições. Não houve diálogo a respeito de qual maneira desenvolveríamos o trabalho, nem debate com a comunidade escolar. Retornamos em maio, com atividades remotas, mas o Estado disponibilizou três plataformas completamente falhas. O Conexão Escola não permite interação direta entre professor e aluno. É um chat, em que eles ficam completamente perdidos. O Google Classroom é o mais utilizado, mas também tem seus problemas. E a Rede Minas não alcança todo o estado.”

De acordo com o sindicalista, há também questões sociais. “Em Minas, temos a estimativa de que 700 mil alunos não possuem conexão com a internet. As escolas tiveram que se organizar para fazer um levantamento das comunidades e ver quantos tinham condições tecnológicas para o acesso dessas plataformas. Muitos dos que responderam aos questionários têm um celular para ser compartilhado para três, quatro filhos. Então esse acesso às atividades não está acontecendo.”

Segundo Alessandro, diante das dificuldades, observa-se um desinteresse dos estudantes. “Desde maio, tive dois ou três que acessaram o chat do Conexão Escola. E tenho sete turmas, um universo de 240 alunos. Isso está geral. Alguns professores fizeram vídeos com aulas explicativas, mas os alunos não têm pacotes de dados que suportem. Estamos trabalhando com uma parcela excluída da sociedade, e o Governo, ao implementar esse modelo de ensino a distância, se torna ainda mais excludente.”

Na análise dele, está se impondo um trabalho sem treinamento, para o qual os alunos não têm condições de acompanhar. “Com salários baixíssimos, também sofremos ameaças para adquirir novas ferramentas e conseguir desempenhar um trabalho que, ao invés de incluir, exclui alunos, professores e servidores.” Alessandro não vê problemas apenas nas plataformas, mas também nos materiais físicos disponibilizados, porque muitos, segundo ele, contêm erros. “Sou professor de biologia e vi exercícios do terceiro ano do ensino médio elaborados de forma errada. Estamos diante de um quadro dramático.”

Mesmo com todas as dificuldades para o ensino ocasionadas pelo distanciamento, o coordenador do Sind-UTE enfatiza que o retorno presencial não deve acontecer em meio à pandemia. “Já ouvimos: pode ser que retorne em escala de revezamento, dez alunos por turma. Mas nós do sindicato somos terminantemente contra.

Sabemos que Minas está muito oscilante, com diminuição e crescimento de infectados pelo coronavírus. Somos a favor de diálogo com a comunidade escolar, para que não se implemente um trabalho precarizado”, diz ele, citando que o Conselho Nacional de Educação (CNE) já sugeriu que esse ano letivo seja compensado nos próximos, com calendário especial.

Infectologista considera arriscado voltar agora
Para o médico infectologista e chefe do setor de Vigilância em Saúde do Hospital Universitário de Juiz de Fora (HU/UFJF), Rodrigo Daniel de Souza, o momento ainda é de investir no ensino remoto, já que o retorno das atividades presenciais é considerado arriscado, pelo menos enquanto não houver melhoria significativa no quadro da epidemia. “A conformação dos espaços de ensino não permite espaçamento adequado entre os alunos.” Na visão dele, a grande dificuldade ocasionada pela suspensão das aulas não está apenas no ensino da educação básica. “Vai muito além do acesso às tecnologias necessárias, pois, para muitos, a escola funciona como uma creche onde os pais deixam os filhos, enquanto trabalham naquele horário.”

Para exemplificar os riscos a que estariam expostos estudantes e professores, o especialista citou surtos que aconteceram em uma escola de Israel e na Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar), em Barbacena, a cerca de 100 quilômetros de Juiz de Fora. Dos 507 alunos, quase 200 cadetes testaram positivo para o coronavírus em maio. “As escolas não se enquadram nas ondas do Minas Consciente por estas razões. Muito difícil planejar um retorno presencial e assumir um surto posterior. Em relação às crianças, formas mais graves e inesperadas (da Covid-19) foram descritas. No começo da pandemia, não esperávamos isso. Mesmo ainda raras, podem acontecer. Além disso, podem levar a doença para suas casas e contaminar pessoas mais susceptíveis.”

O infectologista destaca que as incertezas acerca do vírus e das enfermidades causadas por ele ainda existem. “Muitos se elegeram especialistas numa patologia ainda desconhecida, mas a verdade é que não estamos no controle da situação.” Rodrigo Daniel pontua que, para o retorno das aulas presencias, as turmas deveriam ser reduzidas, provavelmente misturando os ensinos presencial e a distância. “Medidas para garantir não vão existir, apenas reduzir (os riscos). Talvez nem a vacina será uma garantia. O FDA (órgão americano, semelhante à nossa Anvisa) já manifestou que vai aprovar vacinas com um mínimo de 50% de eficácia.”

Oportunidade de se repensar e produzir novas relações socioambientais
Na opinião da professora da Faculdade de Educação e coordenadora das licenciaturas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Angélica Cosenza, a pandemia não trouxe qualquer avanço para a educação e deve ser vista como uma oportunidade de se repensar e produzir novas relações socioambientais. “O trabalho remoto e o uso de tecnologias digitais que a pandemia nos condiciona a criar não é uma escolha de futuro e não deve ser entendida como uma aposta. É uma possibilidade emergencial.”

“Não acredito que essa possibilidade de ensino remoto na educação tenha algum benefício no sentido de substituir as aulas presenciais. Todos nós seres humanos precisamos de contato, de atividade intelectual. As tecnologias de informação e comunicação se abrem e se colocam como possibilidade momentânea, excepcional.” Angélica lembra que as aulas com uso de tecnologias digitais, que têm sido aplicadas de forma emergencial, são diferentes da Educação a Distância (EAD), que é uma modalidade pensada e planejada.
“O que a pandemia nos traz é a necessidade de nos colocarmos em contato através de um trabalho remoto. Então qualquer rede (de ensino) que faça essa opção precisa pensar nesse trabalho da forma o mais participativa possível, na qualidade e na inclusão: atingir estudantes e dar condições a professores, sem incorrer em excesso de trabalho e de horas de estudo.”

 

 

Fonte: Tribuna de Minas

 

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