O mês de janeiro, é marcado por ações de conscientização sobre a doença. O G1 conversou com mulheres que lutaram contra a doença, considerada o quarto tumor mais frequente na população feminina no país.
Apesar de usarem janeiro como o mês de conscientização sobre o câncer de colo de útero, especialistas de Juiz de Fora reforçam que o combate à falta de informação sobre a doença precisa ser realizado o ano inteiro.
“Os cuidados não devem ser uma preocupação exclusiva do primeiro mês do ano, porque este tipo câncer feminino é a quarta causa de mortes no país. E precisa ser um tema mais frequente nas salas de aulas, em rodas de conversas, em ações educativas, principalmente em locais onde há maior concentração da população alvo, formada por mulheres sexualmente ativas na faixa etária de 25 e 50 anos”, explicou o cirurgião oncológico Roberto Heleno Lopes ao G1.
Segundo ele, a realidade de Juiz de Fora e das cidades das regiões da Zona da Mata e do Campo das Vertentes não foge ao cenário nacional.
Médico Roberto Heleno em Juiz de Fora — Foto: Roberto Heleno/Divulgação
Mesmo que não haja dados atualizados diariamente que mostrem os números da doença nestas regiões, o especialista reforça que nos municípios do interior é onde estão os menores percentuais da população feminina submetida a métodos preventivos adequados, o que faz com que a taxa de incidência do câncer do colo uterino seja maior nessas áreas.
O câncer de colo de útero é um tumor maligno que se desenvolve na parte mais externa do útero e tem total relação com a infecção pelo HPV. Cerca de 96% dos casos deste tipo de câncer estão ligados a essa infecção.
Embora, 80% das mulheres sexualmente ativas vão ter ao longo da vida infecção pelo papiloma vírus humano (HPV), apenas uma pequena parcela (menor que 1%) vai desenvolver o câncer nessa área do corpo.
Vendedora Paula Almeida Carvalho em Juiz de Fora — Foto: Paula Almeida/Arquivo Pessoal
A vendedora Paula Almeida Carvalho, 36 anos, descobriu o diagnóstico por acaso.
“Fiz um exame de rotina no consultório, porque era parte de uma consulta de controle ao ginecologista já que eu havia dado à luz a meu filho cinco meses antes. Mas, quando o laudo revelou o diagnóstico, o susto foi muito grande. Benício, que hoje tem dois anos e três meses, precisava de mim, como ainda precisa. Eu e meu marido pensávamos em ter outro filho. E, de repente esse diagnóstico mudou nossos planos, afirmou Paula.
A vendedora ressalta que a fé e a coragem para enfrentar o tratamento superaram o medo do primeiro instante. E, segundo ela, é preciso estar atenta à importância do acompanhamento médico, mesmo após o parto. Apesar de já ter ouvido a respeito da doença, só procurou mais informações após o diagnóstico.
“Eu não sentia nada. É uma doença silenciosa. Fui pega de surpresa. Muitas mulheres deixam de lado esse autocuidado e perdem a chance de ter um diagnóstico prematuro da doença, maiores chances de cura total, por meio de tratamentos menos invasivos”.
De acordo com radio-oncologista do Instituto Oncológico, que atende pacientes do SUS em Juiz de Fora, Adriana Ferreira, na maioria das vezes, a infecção pelo HPV é transitória e regride espontaneamente, entre seis meses a dois anos, após a exposição ao vírus.
“Além de aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV, fatores ligados à imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem influenciar os mecanismos ainda incertos que determinam a regressão ou a persistência da infecção e, também a progressão para lesões precursoras ou câncer”, afirmou a médica.
Fatores de risco
Por isso, “o tabagismo, a iniciação sexual precoce, a multiplicidade de parceiros sexuais e o uso de contraceptivos orais são considerados fatores de risco para o desenvolvimento de câncer do colo do útero. A idade também interfere nesse processo, sendo que a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao passo que acima dessa idade a persistência é mais frequente,” explicou Adriana.
Considerando que esse é um câncer causado na maioria das vezes por uma infecção viral (HPV), a vacinação e um método efetivo de prevenção.
O Ministério da Saúde implementou no calendário vacinal, em 2014, a vacina contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos. A partir de 2017, o Ministério estendeu a vacina para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos.
Alessandra Costa Batista da Silva e a família em Juiz de Fora — Foto: Alessandra Costa/Arquivo Pessoal
Alessandra Costa Batista da Silva, 38 anos, já tinha ouvido falar sobre o câncer de colo de útero, mas não tinha se aprofundado no assunto. Depois de uma consulta de rotina à ginecologista, ela conta que foi surpreendida com o diagnóstico pela doença.
“Não imaginava passar por isso, porque não sentia nada de diferente no corpo, o ciclo menstrual continuava regular e nunca sentiu dores. Mas aconteceu e graças à minha fé em Deus, não me abalei. Segui acreditando, confiando nos exames, procurando viver um dia após o outro. Deus me mostrava sempre o caminho que eu deveria seguir para resolver logo o que fosse preciso”, lembrou.
Entre diagnóstico e cirurgia, três meses se passaram. Um dos médicos a quem ela recorreu propôs a retirada total do útero, embora os exames mostrassem que ela poderia ainda continuar com o sonho de ser mãe pela segunda vez.
“Então eu cheguei às mãos do Roberto Heleno e fui submetida a traquelectomia radical, por laparoscopia, uma técnica inovadora que retira apenas o colo do útero, preservando a fertilidade da paciente, dependendo da condição de saúde, tamanho do tumor, entre outros critérios. Era tudo que eu esperava e que me garante ainda, se Deus me permitir, ser mãe novamente. Voltei ao trabalho bem rápido e agora faço acompanhamentos regulares. Estou muito bem. Por isso, acredito que é preciso falar sobre esse assunto todo os meses do ano, reforçou.”
Segundo ela, é preciso alertar às mulheres que têm o diagnóstico de câncer de colo uterino que, isso não é uma sentença de morte. “Que bom que houve a chance da descoberta. Ela é a prova de que existe um caminho a percorrer, para que se encontre a possibilidade de recuperação,” aconselhou.
A taxa de cura da doença está mais ligada a quão precoce ou avançada está a doença. Quando descoberto e tratado precocemente, este câncer tem 95% de chances de ser curado.